Abriu a gaveta da escrivaninha, procurou as chaves – não estavam – Nunca acho essas malditas chaves quando tenho pressa! Se dirigiu à cozinha, deu um gole no café já frio, fez uma careta de reprovação, mexeu na bolsa, encontrou as chaves, não se lembrava de tê-las posto aí – Estavam aqui esse tempo todo! Que inferno! – esbravejou enquanto agarrava um guarda chuvas e saia de casa batendo a porta.
6:49, provavelmente terá de correr um pouco para não se atrasar e isso exige um esforço maior do que a energia que Lis tem em seu exausto corpo. O céu cor de chumbo e um vento frio a receberam do lado de fora. – Bom dia. – disse automaticamente o porteiro, que certamente não notaria a diferença entre um ser humano e uma árvore passando por ali. – Bom dia. – respondeu Lis, tão baixinho que ele nem deve ter escutado.
Acordei cedo aquele dia, chovia muito, sorri. Senti um cheiro doce. Abri a janela, fui recebida por um vento frio, mas paradoxalmente ele aqueceu meu coração e agora me aquece todos os dias. É um arco iris em tons pasteis, uma grama verde macía, cheiro de casca de árvore, de tangerina docinha. Permaneceu no meu coração a luz sutil, nos meus dias e nas minhas noites claras a claridade do consolo, da voz tranquila, embalada em muito amor. Cura na dor. Paciencia na insegurança. Cuidado na permanencia. Amor e mais amor. É meu teto de estrelas, minhas paredes coloridas em aquarela. Areia branquinha, cheia de conchinhas, uma flor amarela. Um dia cheio de cor, ainda que o céu esteja cinza chumbo. Rafaela no mundo, é presente dos que não se espera, cria raizes no profundo, É fecundo. Frutos doces da cura, sorvete de chuva e mel, Alma pura, amizade de céu.
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