Abriu a gaveta da escrivaninha, procurou as chaves – não estavam – Nunca acho essas malditas chaves quando tenho pressa! Se dirigiu à cozinha, deu um gole no café já frio, fez uma careta de reprovação, mexeu na bolsa, encontrou as chaves, não se lembrava de tê-las posto aí – Estavam aqui esse tempo todo! Que inferno! – esbravejou enquanto agarrava um guarda chuvas e saia de casa batendo a porta.
6:49, provavelmente terá de correr um pouco para não se atrasar e isso exige um esforço maior do que a energia que Lis tem em seu exausto corpo. O céu cor de chumbo e um vento frio a receberam do lado de fora. – Bom dia. – disse automaticamente o porteiro, que certamente não notaria a diferença entre um ser humano e uma árvore passando por ali. – Bom dia. – respondeu Lis, tão baixinho que ele nem deve ter escutado.
Quando eu era criança eu abraçava as pessoas achando que assim podia sarar as suas dores. Os meus medos eram reais, embora não o fossem, porque pra mim eles existiam. Eu transbordava sinceridade, chorava e ria alto sem me preocupar se incomodava ou não, eu era fiel ao meu coração e a tudo que eu sentia. Eu brincava como se a vida fosse feita só de diversão, eu corria e minha energia nunca acabava e eu achava que podia correr até o fim do mundo. Eu não entendia porque as coisas eram tão complicadas, tudo era tão simples pra minha inocência! Eu era muito sensível e tudo me machucava muito, eu chorava pelas minhas dores e muito mais ainda pelas dores dos outros. Eu etendia muito mais as coisas e vida do que hoje...
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