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Mostrando postagens de março, 2021

(Nem tão) Querido (nem tão) diário,

Eu sou especial e eu to tentando acreditar nisso faz bastante tempo. Ontem a noite eu repeti isso pra mim mesma enquanto fazia o abraço borboleta. Era quase onze da noite e meu quarto era iluminado apenas por um foco de abajour. A mente nos joga truques o tempo todo e o maior deles parece ser a autosabotagem. Não sei quando ficou tão fácil ver o melhor em alguém e só enxergar trevas diante do espelho. A respiração pesada dói, a primeira coisa que me falta quando tudo começa a escurecer aqui dentro é o ar, ou será o amor? O que não falta nunca, ao contrário são os pensamentos que me invadem como um oceano de julgamentos, acusações, opressões, culpas, memórias. Rodopiam na minha mente, entalam na garganta, esmagam o coração. É nadar contra corrente, é subir uma duna de areia fina onde os pés ficam enterrados a cada passo. Sentir a solidão bater no peito como o vento frio em uma noite em que o mar é agitado e as ondas quebram na areia. Não há acolhimento, há resignação, há lagrimas qu

Devaneio

O sofá de dois lugares, um único corpo. O espelho à frente refletindo a reflexão. Paredes pintadas de verde com uma tinta aguada que deixava o passado visível. O passado incomoda? A face dela não expressava nada, seus olhos profundos estavam preenchidos de vazio. Os pés descalços tocavam o chão frio, gostava daquela sensação. Lembrava de quando era criança e acordava assustada com qualquer coisa e não dava nem tempo encontrar os chinelos, a pressa era maior, ou seria o medo? Corria pra cama dos pais, sentindo o chão frio gelar ainda mais seu coração desconsolado. Sacudiu a cabeça como quem tenta desvencilhar-se das memórias. Sentiu cheiro de café, gostava desse cheiro, mas não tinha fome. Abandonou o corpo no sofá. Olhou o teto, fechou os olhos, perdeu-se na escuridão. Escutou o tilintar de gotas de água na tigela de inox onde o cachorro bebia água. Ficou mais forte. Era chuva. Levantou-se, caminhou até a porta, foi recebida por um vento frio e algumas gotas de chuva que ele trouxe com

Rotina

Abriu a gaveta da escrivaninha, procurou as chaves – não estavam – Nunca acho essas malditas chaves quando tenho pressa! Se dirigiu à cozinha, deu um gole no café já frio, fez uma careta de reprovação, mexeu na bolsa, encontrou as chaves, não se lembrava de tê-las posto aí – Estavam aqui esse tempo todo! Que inferno! – esbravejou enquanto agarrava um guarda chuvas e saia de casa batendo a porta. 6:49, provavelmente terá de correr um pouco para não se atrasar e isso exige um esforço maior do que a energia que Lis tem em seu exausto corpo. O céu cor de chumbo e um vento frio a receberam do lado de fora. – Bom dia. – disse automaticamente o porteiro, que certamente não notaria a diferença entre um ser humano e uma árvore passando por ali. – Bom dia. – respondeu Lis, tão baixinho que ele nem deve ter escutado.