Eu sou especial e eu to tentando acreditar nisso faz bastante tempo. Ontem a noite eu repeti isso pra mim mesma enquanto fazia o abraço borboleta. Era quase onze da noite e meu quarto era iluminado apenas por um foco de abajour.
A mente nos joga truques o tempo todo e o maior deles parece ser a autosabotagem. Não sei quando ficou tão fácil ver o melhor em alguém e só enxergar trevas diante do espelho.
A respiração pesada dói, a primeira coisa que me falta quando tudo começa a escurecer aqui dentro é o ar, ou será o amor? O que não falta nunca, ao contrário são os pensamentos que me invadem como um oceano de julgamentos, acusações, opressões, culpas, memórias. Rodopiam na minha mente, entalam na garganta, esmagam o coração. É nadar contra corrente, é subir uma duna de areia fina onde os pés ficam enterrados a cada passo.
Sentir a solidão bater no peito como o vento frio em uma noite em que o mar é agitado e as ondas quebram na areia. Não há acolhimento, há resignação, há lagrimas que secam, há músculos que doem, há pensamentos que vagueiam, assombram, se esvaem, como se esvai o tempo, o momento, o lamento, fica o coração, a oração, o apogeu, quando tudo cessa, fica eu.
Acordei cedo aquele dia, chovia muito, sorri. Senti um cheiro doce. Abri a janela, fui recebida por um vento frio, mas paradoxalmente ele aqueceu meu coração e agora me aquece todos os dias. É um arco iris em tons pasteis, uma grama verde macía, cheiro de casca de árvore, de tangerina docinha. Permaneceu no meu coração a luz sutil, nos meus dias e nas minhas noites claras a claridade do consolo, da voz tranquila, embalada em muito amor. Cura na dor. Paciencia na insegurança. Cuidado na permanencia. Amor e mais amor. É meu teto de estrelas, minhas paredes coloridas em aquarela. Areia branquinha, cheia de conchinhas, uma flor amarela. Um dia cheio de cor, ainda que o céu esteja cinza chumbo. Rafaela no mundo, é presente dos que não se espera, cria raizes no profundo, É fecundo. Frutos doces da cura, sorvete de chuva e mel, Alma pura, amizade de céu.
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