Quando eu era criança eu
abraçava as pessoas achando que assim podia sarar as suas dores. Os meus medos
eram reais, embora não o fossem, porque pra mim eles existiam. Eu transbordava
sinceridade, chorava e ria alto sem me preocupar se incomodava ou não, eu era
fiel ao meu coração e a tudo que eu sentia. Eu brincava como se a vida fosse
feita só de diversão, eu corria e minha energia nunca acabava e eu achava que
podia correr até o fim do mundo. Eu não entendia porque as coisas eram tão
complicadas, tudo era tão simples pra minha inocência! Eu era muito sensível e
tudo me machucava muito, eu chorava pelas minhas dores e muito mais ainda pelas
dores dos outros. Eu etendia muito mais as coisas e vida do que hoje...
Acordei cedo aquele dia, chovia muito, sorri. Senti um cheiro doce. Abri a janela, fui recebida por um vento frio, mas paradoxalmente ele aqueceu meu coração e agora me aquece todos os dias. É um arco iris em tons pasteis, uma grama verde macía, cheiro de casca de árvore, de tangerina docinha. Permaneceu no meu coração a luz sutil, nos meus dias e nas minhas noites claras a claridade do consolo, da voz tranquila, embalada em muito amor. Cura na dor. Paciencia na insegurança. Cuidado na permanencia. Amor e mais amor. É meu teto de estrelas, minhas paredes coloridas em aquarela. Areia branquinha, cheia de conchinhas, uma flor amarela. Um dia cheio de cor, ainda que o céu esteja cinza chumbo. Rafaela no mundo, é presente dos que não se espera, cria raizes no profundo, É fecundo. Frutos doces da cura, sorvete de chuva e mel, Alma pura, amizade de céu.
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