Num imenso fundo azul pálido dançavam vívidos raios de luz, vindos do mais profundo absoluto, e uma suave brisa cintilando paz. Corriam e se espalhavam ao som da criação. Se expandiam e se recolhiam em movimentos ritmados como notas da mais bonita canção.
A água escorria por todos os lados e dava forma a inúmeras vidas, que nasciam e preenchiam cada espaço do infinito. Pontos de luminosidade se fixavam no azul que escurecia. Cada material ia se derramando do abstrato e ia se tornando concreto, cada um no seu lugar, povoando, perfomando, criado e criando. Tudo se fazia um, menos a luz e a brisa, que não podiam objetivar-se em nada, assim que uniram-se em um só essência.
Habitaram o mundo antes de ele se chamar assim. Uma essência hermética que pairava pela existencialidade sendo, e apenas sendo, até o momento que precisou ter, e tendo precisou dividir-se em dois seres diferentes, mas construídos pelo mesmo material, preenchidos do mesmo ar, formados pela mesma luz. Se dividiram aí tomando cada uma sua individualidade, mas com a mesma recendência.
Lançadas à criação, ao habitat surgido da vontade. Viveram por uma eternidade, iluminando e preenchendo, provando e liberando, voando e se arrastando. Na memória profunda a saudade do que foi um só.
Por tanto viverem, no sentido complexo que exprime a vida, se sabotaram na ilusão de chamar atenção do Tudo e do Todo, que com medo da luz mitigar e do ar se dissipar, as fez se encontrar, o que as testemunhas perpétuas sabiam ser um reencontrar.
Se tocaram, se expandiram, se recolheram, se envolveram, se mesclaram. Conviveram, se habitaram. Dissiparam a tormenta. Se despediram, mas tamanho foi o medo de se separarem outra vez que o ar agora brilha e a luz venta.
Acordei cedo aquele dia, chovia muito, sorri. Senti um cheiro doce. Abri a janela, fui recebida por um vento frio, mas paradoxalmente ele aqueceu meu coração e agora me aquece todos os dias. É um arco iris em tons pasteis, uma grama verde macía, cheiro de casca de árvore, de tangerina docinha. Permaneceu no meu coração a luz sutil, nos meus dias e nas minhas noites claras a claridade do consolo, da voz tranquila, embalada em muito amor. Cura na dor. Paciencia na insegurança. Cuidado na permanencia. Amor e mais amor. É meu teto de estrelas, minhas paredes coloridas em aquarela. Areia branquinha, cheia de conchinhas, uma flor amarela. Um dia cheio de cor, ainda que o céu esteja cinza chumbo. Rafaela no mundo, é presente dos que não se espera, cria raizes no profundo, É fecundo. Frutos doces da cura, sorvete de chuva e mel, Alma pura, amizade de céu.
Comentários