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Uma história que se escreveu antes que eu a escrevesse

Num imenso fundo azul pálido dançavam vívidos raios de luz, vindos do mais profundo absoluto, e uma suave brisa cintilando paz. Corriam e se espalhavam ao som da criação. Se expandiam e se recolhiam em movimentos ritmados como notas da mais bonita canção. A água escorria por todos os lados e dava forma a inúmeras vidas, que nasciam e preenchiam cada espaço do infinito. Pontos de luminosidade se fixavam no azul que escurecia. Cada material ia se derramando do abstrato e ia se tornando concreto, cada um no seu lugar, povoando, perfomando, criado e criando. Tudo se fazia um, menos a luz e a brisa, que não podiam objetivar-se em nada, assim que uniram-se em um só essência. Habitaram o mundo antes de ele se chamar assim. Uma essência hermética que pairava pela existencialidade sendo, e apenas sendo, até o momento que precisou ter, e tendo precisou dividir-se em dois seres diferentes, mas construídos pelo mesmo material, preenchidos do mesmo ar, formados pela mesma luz. Se dividiram aí tomando cada uma sua individualidade, mas com a mesma recendência. Lançadas à criação, ao habitat surgido da vontade. Viveram por uma eternidade, iluminando e preenchendo, provando e liberando, voando e se arrastando. Na memória profunda a saudade do que foi um só. Por tanto viverem, no sentido complexo que exprime a vida, se sabotaram na ilusão de chamar atenção do Tudo e do Todo, que com medo da luz mitigar e do ar se dissipar, as fez se encontrar, o que as testemunhas perpétuas sabiam ser um reencontrar. Se tocaram, se expandiram, se recolheram, se envolveram, se mesclaram. Conviveram, se habitaram. Dissiparam a tormenta. Se despediram, mas tamanho foi o medo de se separarem outra vez que o ar agora brilha e a luz venta.

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