Ando com saudade de sair da escola e ter alguém pra me buscar, de comer pipoca depois da missa, de sentir cosquinhas até faltar o ar. Saudade de comer em prato fundo bolinhas de arroz, feijão, macarrão, carne, tudo junto! Saudade de tomar banho na chuva, de correr atrás de pintinhos, de fazer bolinha de sabão, de me preocupar só em acertar o passo da dança e lembrar na prova que montanha é uma grande elevação. Saudade das minhas maldades ser só jogar coisinhas no quintal da vizinha, de dormir no colo da minha mãe, de ter franjinha. Saudade de álbuns de figurinha, das balinhas de 1 centavo, dos meus lacinhos, de correr na rua, dos meus lápis de cor, de acreditar que São Jorge mora na lua, de brincar com iô-iô. Saudade de andar na cacunda no meu pai, de quando o carnaval era só desfile de bonecos, maizena e nada mais. Saudade das minhas bilongas, de usar terêrê e vestido de estampas, de colar adesivo na agenda, de me pendurar em varal, de acreditar em lendas, de ser rica com 1 real. Saudade de quando brinco era coisa de menina, de quando eu me divertia fazendo faxina. Saudade de rebobinar a fita, de fazer cabana com lençol e cadeira, de imitar chiquititas, de provar vestidos na costureira. Saudade dos natais em família, de quando maquiagem era só pra gente grande, das unhas pintadas de incolor, das bonecas maltrapilhas, do meu cobertor, de comer com colher em restaurante. Ando com saudades dos céus de outrora, quando a educação era um valor, quando Deus era a única verdade, de quando a rebeldia dos jovens era só ouvir rock, querer sair de casa e ter vaidade. A vida agora é outra, tudo está invertido, sem sentido, relativo, sem esperança... Saudade dos anos que deram vida á Apoena criança.Saudade dos anos 90, a última infância.
Quando eu era criança eu abraçava as pessoas achando que assim podia sarar as suas dores. Os meus medos eram reais, embora não o fossem, porque pra mim eles existiam. Eu transbordava sinceridade, chorava e ria alto sem me preocupar se incomodava ou não, eu era fiel ao meu coração e a tudo que eu sentia. Eu brincava como se a vida fosse feita só de diversão, eu corria e minha energia nunca acabava e eu achava que podia correr até o fim do mundo. Eu não entendia porque as coisas eram tão complicadas, tudo era tão simples pra minha inocência! Eu era muito sensível e tudo me machucava muito, eu chorava pelas minhas dores e muito mais ainda pelas dores dos outros. Eu etendia muito mais as coisas e vida do que hoje...
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